Em tempos de crises existenciais, vácuos inexplicáveis e terríveis depressões, busca-Se Sentido!
“Quando a situação for boa, desfrute-a. Quando a situação for ruim, transforme-a. Quando a situação não puder ser transformada, transforme-se.” (Viktor Frankl)
É matéria prima do ser-humano a capacidade de superação; por ser humano, pode-se ir além, superar, ressignificar; ter um novo olhar; dar um novo sentido sempre. Enquanto houver vida, há possibilidades. Essa capacidade é exclusiva dos seres humanos, e os animais não a podem ter, porque requer a potencialidade da razão, da compreensão, do entendimento... “Quando não podemos mais mudar uma situação, somos desafiados a mudar a nós mesmos.” (Viktor Frankl).

O psiquiatra e psicólogo austríaco Viktor Emil Frankl tem uma bela história vivida, onde a superação está presente do início ao fim. Sobrevivente dos campos de concentração mais letais, Auschwitz e Dachau, Frankl também é ex-prisioneiro do nazismo, de nº 119.104; falo de um ser–humano maravilhoso, que fundou a logoterapia, ou Psicologia do Sentido, onde o ser supera seus conflitos e dores a partir do momento que encontra um Sentido para viver.
Nascido em 1905, Frankl formou-se médico psiquiatra em 1930. Dois anos depois, foi deportado pelos nazistas para os campos de concentração, onde ficou até sua libertação treze anos depois, em 1945. Nos campos de concentração, Frankl viu a esposa grávida, pai, mãe e irmão (exceto sua irmã) mortos pelo regime nazista; e mesmo perdendo tudo de mais precioso para si, foi dentro de Auschwitz e Dachau que Frankl escreveu suas principais Obras, e fundou o que viria a ser a terceira corrente filosófica da Psicologia, a terceira escola de Psicologia Vienense, a Logoterapia, que busca o tratamento através da busca de sentido. “O que é, então, um ser humano? É o ser que sempre decide o que ele é. É o ser que inventou as câmaras de gás; mas é também aquele ser que entrou nas câmaras de gás, ereto, com uma oração nos lábios.” (Viktor Frankl).
Foi observando o sofrimento humano nos campos de concentração, que Frankl percebeu que o ser-humano é capaz de auto-transceder, de se superar sempre, indo além de seus limites, alçando voou, encontrando novas forças, onde nunca imaginou encontrar. Dr° Frankl percebeu que mesmo no mais agudo sofrimento, o ser-humano pode dar sentido e encontrar sentido para viver... Vendo os judeus indo às câmaras de gás, sem perder a fé na vida e em suas crenças, o sentido na vida, fazia com que encarassem a pior das situações da vida, com saúde emocional, psicológica, ou porque não dizer, integral, já que o ser-humano é uma totalidade, de físico, biológico, social, psicológico, e também portador de uma espiritualidade. Ao contrário de muitos existencialistas europeus, Viktor Frankl não é nem pessimista nem anti-religioso. Para quem enfrentou com coragem as forças do nazismo, ele assume uma visão surpreendentemente positiva da capacidade humana de transcender uma situação difícil e descobrir uma adequada verdade orientadora.
Foi no campo de concentração que Frankl descobriu que “Quem tem um 'porquê' enfrenta qualquer 'como'”. (Viktor Frankl).
Em um dos livros de Viktor Frakl, chamado Em Busca de Sentido, Um Psicólogo no Campo de Concentração, ele escreve sobre essa capacidade especificamente humana, de ir além, de poder escolher, apesar da dor...
"Nós que vivemos em campos de concentração podemos nos lembrar que os homens que percorriam as barracas para confortar os outros abriam mão de seu último pedaço de pão. Eles podem ter sido poucos em número, mas sustentaram prova suficiente de que tudo pode ser tirado de um homem exceto uma coisa: a última de suas liberdades — escolher sua atitude em um determinado arranjo circunstancial, a escolha de seu próprio caminho (...) Fundamentalmente, portanto, qualquer homem pode, mesmo sob tais circunstâncias, decidir no que ele deve se tornar - mentalmente e espiritualmente. Ele pode manter sua dignidade humana mesmo em um campo de concentração."
Mesmo diante de uma doença incurável, você pode encontrar um sentido para estar vivi e para aproveitar o tempo que tiver... Essa busca de sentido faz com que o ser-humano se encontre, encontre seu lugar no mundo. Quais motivos ainda te fazem viver? O amor por um filho? Um talento específico que você tem? Arte? Música? Dança? Pintura? Interpretação? Teatro? Composição? Poesia? Fé? Religião? Uma recordação a ser preservada? São justamente estes frágeis filamentos de uma vida semi-destruída que devem ser utilizados na construção de um padrão firme, um significado e uma responsabilidade para o ser humano. Este é o desafio e objetivo da Logoterapia, uma versão moderna do humanismo existencialista, elaborado pelo próprio Viktor Frankl a partir de suas experiências pessoais nos campos de concentração.
Frankl escreveu que foi ajudando as pessoas a encontrarem o sentido de suas vidas, que ele mesmo, encontrou o sentido da sua. Para ele, o sofrimento é o momento ideal para o ser-humano descobrir, conhecer e usar suas mais poderosas potencialidades. "Nós podemos descobrir o significado da vida de três diferentes maneiras: (1) fazendo alguma coisa; (2) experimentando um valor/ o amor; e (3) sofrendo." (Viktor Frankl).
Finalizando este texto, preciso relatar uma rica experiência que vivenciei há tempos atrás, quando acompanhei a evolução clínica de uma pessoa, portadora de depressão, caso agudo, inclusive com várias tentativas de suicídio, e claro, com o acompanhamento psiquiátrico, com as sessões psicológicas, passou a dedicar as suas tardes numa ONG, e se viu tão feliz ajudando aquelas pessoas necessitadas, que superou grande parte dos pensamentos e sentimentos negativos, reduzindo mais de 60% dos medicamentos... Apesar da depressão, essa pessoa encontrou um sentido para sua vida, ajudando outras pessoas... Quando pensava naquelas pessoas que a esperavam, a força de levantar da cama, tomar um banho e ir embora acontecia.
Por pior que seja a depressão, por mais fundo que seja o buraco onde você se encontra, por mais escura que seja a noite que você esteja enfrentando, tenha esperança! Dentro de você há vida! Há capacidade de sentido! Há possibilidade de ressignificação sim! Lembre-se:
“... Pode-se tirar tudo de uma mulher, de um homem, exceto uma coisa: a última das liberdades humanas – escolher a própria atitude em qualquer circunstância, escolher o próprio caminho.” (Viktor Frankl)
Diogo Rogério
Psicólogo